O tempo traz tropeço, encruzilhada...
Estamos numa dessas. Decifrar
o rumo a ser tomado pela estrada
nos pede muita calma: ouvir, olhar,
cuidar da paz, do bem, do que os agrada.
A gruta de Belém é uma lição:
é numa manjedoura, não no altar,
que Deus vem preparar o mundo irmão!
José e Maria podem nos contar
de dor, de medo, fé, preocupação...
Natal é Deus conosco, na jornada,
servindo os pequeninos, sendo o Pão!
J. Thomaz Filho
Supremo Tribunal, o Federal,
requer os seus por cento: dezesseis.
Falar de porcentagem é legal...
O caso é como são as nossas leis...
Em mínimos, mais cinco, no total!
Salário... Sempre o mínimo pro pobre,
com mesa tão minguada, não de reis!
A tal da porcentagem tudo encobre...
Será que matemática sabeis?
É justo que o pequeno só soçobre?
A toga era pra ser tão parcial?
Juízes, que quereis? Mas isso é nobre?
J. Thomaz Filho
Que dias bem melhores possam vir!...
Os passos da esperança vão além
de apenas esse dito bom de ouvir.
Se têm ouvidos bons para o porém,
os braços têm mais firmes para o agir!
Os dias bem melhores florirão,
se escolhas se fizerem sem desdém,
se os olhos percorrerem todo o chão,
se o sonho compreender que lhe faz bem
ser seiva de bem mais que uma intenção!
Jamais vai a esperança desistir
do seu melhor cultivo: mundo irmão!
J. Thomaz Filho
Ternura, acolhimento, mansidão,
a paz se desdobrando em cada gesto,
firmeza recheada de perdão,
olhar que tudo inclui, que não vê resto,
e sempre tem lugar no coração.
Ah! Deus queria assim o Seu retrato:
constância que não vê tempo molesto,
vigor que faz o sonho virar ato,
serviço prestimoso, atento, honesto
– e então moldou você, com todo o trato!
Ó mãe, você é mesmo essa lição
de amor, partilha e luz!... A Deus sou grato.
J. Thomaz Filho
Ó mãe, são sempre filhos, dos dois lados:
da mão que atira impune e de quem cai.
Que vale uma estatística com dados,
se o nosso coração assim se esvai,
marcando nossos olhos desolados?
A nossa sociedade mentirosa,
com toda a propaganda que nos trai,
ensina que o desfrute é bela rosa,
mas nutre tanto espinho e nos distrai
negando a chance a tantos, criminosa.
Ó Mãe, temos de ouvir os teus recados:
“São filhos, cuidar bem!...” O resto é prosa.
J. Thomaz Filho
A dor não tem nenhuma sensatez.
Por que não poupa as mães? São do cuidado!
Não dá para contar de um a três,
pensar e ponderar, ser de bom grado?
A dor não faz assim, nenhuma vez.
As mães têm o seu pacto com a vida,
são sempre de ficar ali, ao lado,
com mãos de mil tarefas, fronte erguida,
sem prazo, prestativas – são recado
do céu pra todos nós, alguém duvida?
Meu Deus, o que eu não vejo eu sei que vês!
Oh! Dá-lhes teu vigor, tu és guarida!
J. Thomaz Filho
É claro que ela é tua, meu Senhor.
Foi sempre, para mim, sinal bem claro
do teu olhar atento e teu calor,
do teu amor fiel, e luz, e amparo,
da paz que um tempo novo quer compor.
É claro que ela é tua, plenamente.
Me livra do olhar míope, torto, avaro,
me ensina a erguer a fronte e andar em frente,
firmando esse convívio que te é caro,
plantando aqui no chão o eternamente.
É claro que ela é tua! Que valor!
Teu dom na minha vida, ela é um presente!
J. Thomaz Filho
Sonhei com esse belo aplicativo.
Ao ler o seu contrato de licença
pesei o positivo e o negativo:
não era pra assinar minha sentença,
passei os itens todos pelo crivo.
E não pestanejei nem por momento,
fiquei com o pacote, pois compensa:
mexendo com a vida e o sentimento,
me fala de saúde e de doença,
do amor que, alegre ou triste, é o alimento.
Clicar ali no sim foi decisivo:
com ela cultivar meu casamento!...
J. Thomaz Filho
Creio em Deus Filho, sim, ressuscitado,
que, sem reservas, do Pai foi vontade,
que dos pequenos manteve-se ao lado,
que as consciências chamou à verdade,
que dos poderes não foi aliado.
Dom e serviço, jamais sacrifício,
Ele exigiu dos que, com liberdade,
querem segui-lo no mesmo exercício.
Tomar a cruz com total dignidade
não é curvar-se, é firmar-se sem vício.
Pelos poderes se viu condenado:
por assumir pleno amor como ofício!
J. Thomaz Filho
Creio em Deus Filho de morte tramada
em consequência da vida que leva:
quer desatar toda mão algemada,
quer passo livre do peso que entreva,
quer corações com a paz cultivada.
Da Tradição só visita o que é nobre.
Bem mais que Adão e bem mais do que Eva,
faz da partilha o socorro do pobre,
jamais condena, é perdão, luz que eleva
olhos pro céu – que ninguém mais soçobre!...
Pensam que a morte o transforma num nada?
Vive pra sempre: eis que a fé se descobre!
J. Thomaz Filho