Pai nosso, nos dá hoje o pão normal
– assim teu Filho ensina a bem dizer –,
o pão suficiente e fraternal,
que une o bom suor e o bem-querer,
em mesas sem a dor do desigual.
O pão – sempre suor de muita gente –
sustento, luz e bênção quer trazer;
porém também carrega o deprimente:
o peso do sobrar junto ao não ter,
o agravo do mostrar-se indiferente.
Se foi na manjedoura o teu Natal,
então ser pão pro irmão é ser decente.
J. Thomaz Filho
Pai nosso, tua vontade é que, afinal,
– assim teu Filho ensina a bem dizer –,
nos põe a terra e o céu num mesmo grau,
pois quer ser para mim, pro meu fazer,
pros gestos de nós todos manancial.
Só tu conheces bem os nossos nós,
e sabes o que temos de aprender,
e vens, e não nos negas tua voz,
que ecoa em todo canto e nos faz ver
que pões no mundo irmão todos os prós.
É claro que é possível, é Natal:
o Irmão nos vem, e não nos deixa sós!
J. Thomaz Filho
Pai nosso, que o teu Reino, dom total
– assim teu Filho ensina a bem dizer –,
nos tire o comodismo do legal,
nos firme, não nos deixe esmorecer
na lida pelo bem, que é o principal.
Justiça, paz, perdão, plena inclusão,
ser luz e um ombro amigo a quem sofrer,
ser sal que traz bom gosto e compaixão,
fermento na partilha, sem reter
nem dons, nem bens, suor ou mansidão.
Pois esse desafio é o do Natal:
cuidarmos uns dos outros, neste chão!
J. Thomaz Filho
Pai nosso, esse teu nome sem igual
– assim teu Filho ensina a bem dizer –
que seja, desde aqui do meu quintal,
por mim santificado em meu viver,
sem nunca eu me fazer o teu rival.
Que cada sonho meu e cada gesto
não ousem sobrepor-se ao teu querer
e deixem sempre claro e manifesto
que és paz, plena acolhida, bem-querer
que inclui humanos todos, sem um resto.
Teu Filho entre os pequenos fez Natal,
tão denso em seu anúncio e seu protesto!
J. Thomaz Filho
Pai nosso, estás no céu!... Não é banal,
assim teu Filho ensina a bem dizer!
Se a voz do Filho teu neste quintal
nos veio clarear e socorrer,
então da tua voz temos o aval.
Teu céu não é distância, é luz, vigor,
é o sonho-desafio que vem trazer
a cada passo nosso o bom labor,
capaz de dar ao chão esse prazer
de ser jardim da vida em toda cor.
Se a estrela de Belém diz que é Natal,
plantemos paz e bem, sem mais temor.
J. Thomaz Filho
Pai nosso, não Pai meu!... Isto é o real!
Assim teu Filho ensina a bem dizer!
Tornar aqui no chão sempre atual
a força desse dito é desfazer
as tramas da ambição e do fatal.
É abrir a própria casa e o coração,
jamais deixar pra lá quem vir sofrer,
firmar pleno suor no mundo irmão.
Ferir o preconceito e, sem temer,
servir e partilhar, e dar a mão.
Se o Filho do Deus Vivo faz Natal,
humanos, temos luz e direção!
J. Thomaz Filho
Ser pai é cultivar a liberdade,
tornar os filhos firmes para a lida:
ser luz, ser referência da bondade,
o amor ter por sustento e por medida,
ser pronto na esperança e na verdade.
Abrir a casa aos filhos, sem temor:
que saiam, que retornem – é guarida;
que façam as escolhas – é vigor;
que sejam bem irmãos – razão da vida;
que saibam no perdão se recompor!
Ser pai: manter ao céu a lealdade,
plantando neste chão real valor!
J. Thomaz Filho
Quem queira diga lá que foi o Acaso,
quem queira diga Fluidos, Energia...
Ah! tenho a confessar: no nosso caso,
foi Deus que é Paz, Vigor, Luz, Harmonia,
Trindade, Convivência, Amor sem prazo!
Mas nada foi imposto, a liberdade
pautou-nos cada passo, dia a dia,
fluiu nos nossos gestos, na amizade
que fez-nos tão cativos da alegria
que sabe fecundar fidelidade!
Quiséramos florisse nesse vaso
o andar dos casais todos, Deus Bondade!
J. Thomaz Filho
Você vai perguntar? Acha normal
ser paz, dedicação, bom compromisso,
mantendo sempre um nobre ritual:
olhando em panorama, ser serviço,
amor, perdão e luz, um dom total.
Loucura? Se este mundo entende assim,
pois ela é contramão e traz o viço
que faz uma semente ser jardim.
Enquanto vemos tanto rebuliço,
prossegue tão serena, sendo sim!
Um sim que sabe ser o bom aval:
um sim a Deus, ao outro, à vida, enfim!
J. Thomaz Filho
Dizer ressurreição não é futuro,
é agora, faz rever o sonho inteiro.
O Irmão que nos precede em tom seguro
é seiva, é bom vigor para o canteiro,
nos pede os pés no chão, não sobre o muro.
Não fala de troféu, prosperidade,
é rumo, se propõe nosso roteiro:
é luz, perdão, é paz, é liberdade,
vigor, abraço, eterno companheiro,
nos pede os pés no chão, fidelidade!
A cruz lhe impôs fracasso, trouxe escuro?
Nos pede os pés no chão, quer densidade!
J. Thomaz Filho