Dizer ressurreição, e olhar pequeno?
Dizer ressurreição, mas odiar?
Dizer ressurreição, negando o aceno?
Dizer ressurreição, sem dialogar?
Dizer ressurreição, e expor veneno?
Se o Mestre socorreu a vida inteira,
se o Mestre soube ouvir, soube abraçar,
se o Mestre foi perdão em toda a beira,
se o Mestre soube erguer e renovar,
dizer ressurreição é de outra eira.
Dizer ressurreição de modo pleno
é remover de nós tanta sujeira!
J. Thomaz Filho
A tua competência desmascara
o nosso preconceito, a prepotência.
Quem é que tem cuidado, quem ampara,
no frágil, na incerteza, na carência,
com mais propriedade? Quem encara?
A tua consciência é a contramão
da rígida frieza da exigência,
porque sabe dar voz ao coração
e sabe desdobrar-se na vigência
das dores que pululam neste chão.
A tua persistência é que nos sara.
O céu, mulher, se entende com tua mão.
J. Thomaz Filho
Nascemos para a boa convivência
e agora o grande medo é conviver?
E então eu nem conheço, eu sou ausência,
e miro o meu vizinho por temer,
sem nem querer ouvir, sem mais clemência?
Se tenho a minha casa pra cuidar,
não cuido de o redor compreender?
Se penso o meu conforto e o do meu lar,
eu vou por cor de pele resolver
quem devo ou quem não devo eliminar?
É nesse paraíso da demência,
Brasil, que você insiste em se firmar?
J. Thomaz Filho
Sim, o ano quer ser novo, de verdade,
e já nos preparou os seus pedidos:
precisa de disponibilidade,
precisa de outro olhar, de bons ouvidos,
precisa de perdão, simplicidade.
Precisa que deixemos lá pra trás
os nossos corações mal resolvidos,
pois quer ver-nos cumprir lições de paz,
com braços pros caídos e sofridos,
com novo atrevimento, mais audaz.
O céu não quer somente a eternidade,
também olha pro chão, e o quer capaz.
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho desafia
a cada um de nós: sermos também
cuidado e luz, jamais monotonia;
perdão e paz, jamais peso ou desdém;
serviço, amor, partilha, todo dia!
É claro que Ele é o Filho, que é a Verdade,
a Luz, o Bom Fermento, o Sal que vem
trazer o gosto audaz pra humanidade,
o gosto de provar que chão e além
se tocam, têm real proximidade!
Natal!... O nosso Deus é companhia
e põe no mundo irmão sua identidade!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho nos precede
e cumpre o que Ele sonha, de verdade:
a vida é que é o parâmetro que mede
o olhar, o bom cuidado e a lealdade
ao chão, a cada irmão, ao que o Pai pede.
É claro que esse Filho é rumo e via
pra cada um de nós, pra toda a idade,
seus passos são, de fato, a garantia
daquilo que é veraz felicidade:
cuidar da paz, ser boa companhia!
Natal!... Traz a inteireza que não cede
ao mal, que é justa e firme na ousadia!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho nos ensina
um jeito todo novo de lidar
com quem anda sofrendo em cada esquina,
com quem já não consegue se livrar
de quanto com o céu jamais combina.
É claro que esse Filho é Vida Plena,
e a quer, em abundância e sem cessar,
pra todos, com a paz firme e serena,
capaz de o mundo inteiro transformar,
segundo o Pai sonhou e sempre acena.
Natal!... Se a caminhada é peregrina,
a paz é pra firmar-se em cada cena!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho nos intima,
não veio pra deixar tal qual estava,
e mostra como o Pai nos tem estima:
então o querer d’Ele vem e cava
em nós um alicerce pra outro clima.
É claro que esse Filho é sal da terra.
Do medo e do receio nos destrava,
põe óleo na engrenagem que ainda emperra,
não quer a nossa mente assim, escrava
de sonhos que descambam para a guerra.
Natal!... O Deus da Paz, que tudo anima,
nos quer em mundo irmão: Ele não erra!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho nos convoca.
Da sua manjedoura se levanta,
e um gosto de mudança em nós provoca:
ninguém mais no abandono! Vem e implanta
no chão um novo olhar: que o céu evoca.
É claro que esse Filho é bom fermento.
Percebe o contrassenso: a dor é tanta!
Mas não entrega a vela a qualquer vento,
nem deixa a voz grudada na garganta,
espalha consciência, luz e alento.
Natal!... Mercadoria para troca?
É claro que Deus tem bem outro intento!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho nos abraça
e faz do seu perdão uma constante,
assume o compromisso e não repassa,
e vem aliviar cada semblante
marcado pela dor, pela ameaça.
É claro que esse Filho é luz do mundo,
é fonte que refaz o caminhante,
ternura que nos mexe lá no fundo,
nutrindo em nós um gosto semelhante:
no trato e no cuidado, dom fecundo!
Natal!... O melhor vinho em nossa taça:
aquece-nos de vez, no mais profundo!
J. Thomaz Filho